DO LUTO


A porta já foi branca, mas ficou muda e hoje lamenta os acordes de um silêncio ensurdecedor, que zomba de quem chega e faz jorrar sal dos olhos de quem sai...

A porta se abre, e é difícil prosseguir.
Carmem pode ouvir claramente a voz do infinito e em seu peito, sentiu todo o peso de uma ausência que machuca.
Do seu lado direito dorme uma cama, vizinha de uma janela solitária e que não tem muito o que dizer.
Na cama há dois amantes, que se consomem a cada troca de carícia desesperada;
mas eles estão na cabeça de Carmem e não ali agora.
No toca-discos Sinatra se declara, mas Nova Iorque é longe demais e Carmem sabe disso.
Há uma fotografia na estante, e nela, um sorriso que dói...
A visão ficou turva, ficou confusa e brilhante; há algo iquieto naqueles olhos azuis e está caminhando em uma procissão particular, não tem cheiro, mas é salgado como o mar e pesado como um segredo sujo.
É a voz estridente de um silêncio físico, é a voz do luto, é a voz da dor, é a voz de quem não têm palavras...

Carmem sai...
e a lágrima fica.

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